domingo, 25 de outubro de 2009

CIRCUITO DE DESIGN CEARÁ

O design no Brasil está cada vez mais difundido, e isso é resultado direto dos eventos que ajudam a disseminar a cultura e as práticas do design. No Ceará, uma promissora iniciativa vai ajudar a fomentar no estado esse sentido: o Circuito Ceará Design.
A parceira entre a Associação Ceará Design e o SEBRAE vai reunir workshops, palestras, laboratórios de capacitação, visitas técnicas e consultorias.

O evento é dividido em duas etapas, a primeira itinerante. O circuito vai percorrer a capital e as principais cidades do interior do Estado, em lugares onde o SEBRAE sedia escritórios regionais e podem participar associados, gestores do SEBRAE e profissionais de interesses correlatos.
Para a etapa seguinte, o Laboratório de Aperfeiçoamento em Design Estratégico, estão convidados profissionais das áreas de produto, gráfico, comunicação, interiores e moda, pois o Laboratório têm como principal objetivo multiplicar as possibilidades desses profissionais compreenderem as exigências das empresas, aplicando um novo processo de design que encontre soluções sustentáveis.

Programação:

Palestras Worshop Visitas Técnicas

Juazeiro 23 e 24 de setembro

Sobral 7 e 8 de outubro

Fortaleza 22 de outubro e 5 de novembro

Instrutoras Denise de Castro e Mariana Tamas

Laboratório de Aperfeiçoamento em Design Estratégico

Fortaleza 19 a 30 de outubro e 16 a 27 de novembro

Local FA7

Horário de 18 às 22 horas (40 horas)

Instrutores Allyson Reis e Érico Gondim

Inscrições na Rua Monsenhor Bruno, 1136 sala 23, Aldeota - Fortaleza - CE
Tel: 85 3461.2725

Mais informações com Denise de Castro, Coordenadora de Marketing da Associação Ceará Design, no telefone (85) 3461.2725 ou (85) 9121.5746.

sábado, 17 de outubro de 2009

FORTALEZA KITSCH

Este texto foi retirado do blog PerCursos Urbanos do BNB, o texto está qual igual ao do blog (preservando os direitos autorais) .

OBS: as fotos também são deste blog.

"UMA FORTALEZA KITSH"

A chamada "pós-modernidade" traz à cena do pensamento sociológico e filosófico a experiência do kitsch. A cultura do mau-gosto, do exagero, da imitação barata - em suma, do culto à aparência desprovida de conteúdo, é bastante antigo. O kitsch, dizendo de forma simples, é aquilo que podemos ter daquilo que não podemos ser... No PerCurso deste Sábado, observamos diferentes manifestações do brega-kitsch em nossa arquitetura e espaço urbano. Procuramos compreender o que torna esse fenômeno tão peculiar à nossa cidade que antecipara em muito o que só depois a civilização ocidental viria a conhecer (com a licença do exagero, evidentemente..).

O mediador da vez foi o Gustavo Costa, arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal do Ceará, bacharel em filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e mestrando em filosofia pela Universidade Federal do Ceará.
Uma catedral descontextualizada, desproporcional é no entender de Gustavo Costa um exemplo emblemático do Kitsch na cidade: "Parece - não é - mas tá valendo!". Ao invés de pedras, concreto armado, arcos (quase) ogivais... um estilo do século XIV que se tentou reproduzir - do jeito que deu - em meados do século XX... A Catedral de Forteleza anterior, mais simples porém melhor adaptada ao seu contexto espacial, foi demolida em 1938.

O Castelo do Plácido, do qual só sobraram as "torres" ficava onde hoje está o prédio do Ceart: "o prédio atual dialoga melhor com o clima e as tradições da cidade. Nem tudo tem que ser preservado!", posiciona-se Gustavo.
A excenticidade de um prédio em formato de rádio, construído para abrigar... uma rádio (a Uirapuru). Hoje é a sede do Diretório Central dos Estudantes da UFC. O brega também pode ser simpático...
A Casa do Português (ou Vila Santo Antônio de José Maria Cardoso) na Av. João Pessoa. Poucos adornos, denota um certo modernismo muquirana...Na coqueluche do automóvel dos anos 1940/1950, o estacionamento ficava no alto, superior às habitações dos seus donos
"O problema da arquitetura de Fortaleza é o cliente", disse o mediador numa citação atribuída ao humorista Falcão (que também é arquiteto). O público, contudo, indagou de Gustavo sobre a responsabilidade de seus colegas profissionais nas contruções de gosto duvidoso...

A Igreja de Fátima, chamada (maldosamente?) por alguns de boate de Fátima, por conta do neón extravagante. Por fim, um monumento (ao mau gosto). A estátua estrábica e desproporcional de Nossa Senhora de Fátima, que recebe multidões de fortalezenses nos dias 13 de maio - e chega de kitsch!


BLOG: http://percursosurbanosblog.blogspot.com/2009/05/percurso-uma-fortaleza-kitsch.html

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

DESIGNERS CEARENSES


Alguns destaques designers de interiores da CASA COR 2009

MAGALY JEREISSATE GENTIL
Arquiteta e urbanista, formou-se pela Universidade de Fortaleza em 2004, especializou-se na Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro em 2007. No mercado há 6 anos, seu primeiro convite para Casa Cor foi em 2006, participando também, nos anos seguinte 2007 e 2008. Atuante nas áreas de arquitetura e arquitetura de interiores de residências e espaços comerciais, seus projetos têm como características a busca da integração da elegância com o conforto e funcionalidade dos espaços. Todo esse trabalho de pesquisa de materiais e criação caminham em parceria com os clientes, observando e respeitando as suas necessidades e desejos.

MAX FROTA E ITATIENE GARCIA
Max Frota é arquiteto formado pela Universidade Federal do Ceará em 1994. Durante seu período acadêmico, participou ativamente das discussões sobre a realidade da formação em arquitetura no Brasil e na América Latina, atuando como diretor da Fenea, Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura.
No início da carreira morou em Sobral, onde trabalhou com os arquitetos Edilson Aragão e Herbert Rocha, com quem mantém parceria profissional até hoje.
Entre 1995 e 1996 estagiou no escritório de arquitetura SVP de Amersfoort, Holanda e estudou em Florença, Itália.
De volta a Fortaleza, trabalhou como secretário executivo do IAB-CE.
Em 1999, Max e Itatiene, criam em Fortaleza, o escritório Projeto Brasil Arquitetura, onde desenvolvem projetos de arquitetura e interiores de escalas e temas variados nas áreas residencial, comercial, industrial e institucional.
Itatiene Garcia é arquiteta formada pela Universidade Federal da Bahia em 1995. Durante a época de faculdade estagiou no restauro do Mosteiro de São Bento, em Salvador e no levantamento cadastral de Sobral para fins de tombamento.
Logo após a formatura, segue também para estudos em Florença, Itália.
De volta ao Brasil, trabalha por três anos no escritório da arquiteta Denise Pontes, em Fortaleza, gerenciando e desenvolvendo trabalhos de arquitetura e interiores.

CELENE GURGEL
Munida de técnica, conhecimento e uma valorizada intuição, a profissional encarou um grande desafio com o primeiro ano da Casa Cor Ceará em 1999. Na prateleira onde ostenta 11 prêmios recebidos ao longo da carreira, a designer destaca o troféu de participação da primeira exposição de decoração, arquitetura e ambientação do Ceará. “Para mim, a Casa Cor foi um divisor de águas para o mercado, pois após a primeira edição muitos profissionais ganharam muitos trabalhos. O mercado caminhava na horizontal e após a Casa o quadro mudou para melhor. As pessoas passaram a conhecer o trabalho de interiores”, recordou.
Para Celene, os frutos da Casa Cor não foram apenas trabalhos, mas, principalmente, amizades. A designer não disfarça a empolgação quando fala da rede de relacionamentos que construiu durante anos e confessa que a empatia das pessoas é a principal responsável pela conexão com novos amigos. Mesmo rodeada de amigos, a profissional destaca três pessoas fundamentais na sua vida. “Na primeira Casa Cor, três anjos se aproximaram de mim e me deram uma força que nunca vou esquecer. Os arquitetos Marcos Novaes, Dudu Vidal e Cecília Nóbrega são essenciais para mim. Trago os três no meu coração”, declarou Celene

sábado, 10 de outubro de 2009

SEU LUNGA

A HISTÓRIA DO SEU LUNGA

A fantástica construção do nordestino Seu Lunga
(Ester de Carvalho Lindoso)

Joaquim dos Santos Rodrigues: o homem seu Lunga
Seu Lunga é apenas o apelido de Joaquim dos Santos Rodrigues. As piadas sobre ele escondem atrás da personagem o homem real, nascido em Caririaçu, fronteira Norte de Juazeiro, em 18 de Agosto de 1928. Viveu a infância com os pais e mais sete irmãos, "no meio dos matos,"afastado da cidade. O apelido lhe acompanha desde esta época, quando uma vizinha de sua família, que ele só identifica como preta velha, começou a lhe chamar de Calunga, que virou Lunga e pegou.

Começou a trabalhar na roça aos oito anos de idade, e admira a criação rígida que teve de seu pai, o que marca um aspecto psicossocial do homem Lunga. Sobre a educação recebida, Lunga responde: "Uma educação desses pais de família sérios, homem de responsabilidade, homem de caráter, homem de palavra, homem de respeito." Lunga deixa sua postura um tanto desinteressada da conversa, para deixar transparecer sua admiração pelo pai.

Da infância traz poucas lembranças, como as brincadeiras com os colegas, que eram seus próprios irmãos. Entre os irmãos dominava a determinação do pai de que os mais novos deveriam obedecer aos mais velhos. Há também as lembranças das poucas idas à cidade, acompanhando o pai que ia vender ou comprar algo. Foi assim até aos 16 anos, quando se mudou para o Juazeiro.

A mudança para o Juazeiro se deu depois que Lunga caiu em uma cacimba e adoeceu, impedindo-o de trabalhar na roça com o pai. Lá ele aprendeu a arte de ourives, e viveu disso por dois anos. Foi nesse período que seu Lunga aprendeu a negociar no Mercado Público da cidade, passando depois a trabalhar no comércio com sua loja de sucata.
A determinação de seu Lunga que o fez ir para a cidade morar longe da família e conseguir sobreviver fazendo o que nunca tinha feito antes também se mostrou quando pediu a prima em casamento.

Sem nunca terem namorado, Lunga deu a ela três dias para pensar se queria ou não casar-se com ele. Terminado o prazo, ela aceitou o pedido, e só não se casaram no dia seguinte, porque o pai da moça não deixou. O namoro então durou uns dois ou três meses.

Casado desde 1951, hoje Lunga é pai de treze filhos, mas se ressente de não ter podido lhes dar uma educação mais rígida, pois sua esposa "é contra se castigar um filho." Apesar disso, ele se orgulha de todos eles, com exceção de um, terem estudado e se formado em alguma profissão (nenhum com nível superior, entretanto), ao contrário dele mesmo, que foi às aulas por apenas dois meses.

O pai Lunga reflete a rigidez do homem que deu origem a toda a construção da personagem pouco flexível, mas ao mesmo tempo deixa transparecer o orgulho comum a todos os pais: oferecer boa educação aos filhos. É interessante também notar como a realidade interiorana de Lunga influencia em sua avaliação da educação de seus filhos. Ao dizer que quase todos os filhos eram formados, ele disse que nenhum, entretanto, tinha "formatura alta," referindo-se à formação de nível superior.

Ora, em sua vivência, a formação acadêmica é um contexto distante, dispensável para seu estilo de vida. A pouca instrução de Lunga, por outro lado, não o impede de discorrer sobre assuntos como política, cultura, religião, nem o impediu também de candidatar-se a vereador da cidade de Juazeiro em 1988, eleição que não ganhou porque, segundo ele, teve seus votos roubados.

Além do comércio, seu Lunga é dono de um sítio onde cria gados e planta frutas que leva para sua loja para vender. Homem sem grandes paixões, ele se considera "temperado." Religioso, ele se declara devoto do padre Cícero, o que é uma marca também da cearensidade de seu Lunga. Apesar disso, ele não é freqüentador assíduo das missas, pois pensa que religião não é ir a uma igreja ou participar de romaria, mas ajudar àquele "que bate na porta." Em tudo isso seu Lunga se acha feliz.

A rigidez de seu Lunga o faz repudiar a construção de sua personagem, pois o homem se sente tremendamente injustiçado com as estórias que ele diz serem inventadas. E se tem um tema que seu Lunga sempre traz à tona em seu discurso, é a justiça. Lunga não pode perceber aqui a separação entre a construção cultural, o objeto imaginado e abstraído da realidade e a realidade em si. O homem toma a personagem como ofensa pessoal, e isso também fala de sua formação cultural e de seu caráter.

O homem mais zangado do mundo: personagem seu Lunga
A fama da rudeza do seu Lunga, "o homem mais zangado do mundo," corre o Ceará de norte a sul, nas historietas engraçadas contadas nas mesas de bar, nas rodas de amigos, nos ônibus, nos versos do cordelista.

O único que não ri dessas piadas é seu Lunga. Para ele, o que andam contando a seu respeito é invencionice. Mas ao mesmo tempo que ele nega a veracidade das histórias, seu Lunga reconhece uma origem para elas. É que ele "não faz por menos," isto é, se perguntou errado, tem a resposta que merece. Essa é sua grande queixa com relação aos brasileiros e seu principal discurso regular, isto é, aqui e ali ele retorna a essa argumentação. É como se ele quisesse se justificar de sua grosseria.

Ele cita vários exemplos de como isso acontece. Um cliente entra na loja e pergunta sobre um ventilador desligado: "Está funcionando?" Indignado seu Lunga devolve: "Como é que ele pode estar funcionando se não está ligado?" Segundo ele, essas e outras respostas a colocações mal feitas é que lhe deram a fama de ignorante.
Há, contudo na fala de seu Lunga uma contradição nítida.

Em alguns pontos ele reconhece um fundo de verdade nos comentários sobre ele; em outros, ele acha inadmissível o fato de alguém ter escrito o que ele considera inverdades a seu respeito. Seu desgosto com os cordéis e as piadas talvez fosse esperado, mas é que sua defesa é tão acirrada, que às vezes faz pensar que o cordelista fala dele algo que ele absolutamente não é.

Esse é um mote para uma discussão interessante: Abraão Batista (o cordelista) pode receber todas as acusações feitas da parte de seu Lunga, pois na verdade ele conta estórias de que ouviu falar, mas que não tem nenhuma confirmação já que ele nem sequer conhece seu Lunga. Por outro lado, ele se junta ao grupo dos que constróem a personagem seu Lunga cada vez que uma história sobre ele é recontada, aumentada, ou até mesmo inventada.

A questão principal aqui é observar como uma identidade pode ser construída a partir de invenções, de criações em torno de um tema central, e como essa construção permite que se vá além da realidade, que dela se exceda, se extraia os componentes nela verificados, e que se simplifique, se estereotipize, se caricaturize e faça dela desgraça, argumento, elemento legitimador, humor etc.

Esse é o mesmo processo discutido no capítulo 1, pelo qual passou e ainda passa a região Nordeste, quando da construção de sua dizibilidade e visibilidade. Os elementos utilizados não precisam necessariamente observar-se na realidade da maneira como é dito, i.e., a dizibilidade muitas vezes não se confirma na realidade, mas ainda assim essa construção é legítima (ou melhor, foi legitimada) porque tem um propósito final (o Nordeste já aprovou até lei com sua dizibilidade).

Abraão Batista reconhece que o personagem de seus cordéis é uma construção sua, ao afirmar que se Lunga hoje é um atrativo turístico de Juazeiro do Norte, isso é devido ao cordel. É claro que a fama de seu Lunga não é resultado da composição dos cordéis, antes, os cordéis é que são resultado dessa fama, mas é importante notar que o processo de construção "inventada" realmente existe, isto é, o comerciante seu Lunga virou o atrativo turístico seu Lunga. Ele não nasceu o seu Lunga que conhecemos hoje, ele é uma construção cultural.

O Nordestino Seu Lunga
Quem é o nordestino seu Lunga? Como ele se comporta como nordestino? Como o fato de ele ser nordestino influencia em suas interpretações da realidade? Em primeiro lugar, é importante retomar as condições para se ter uma identidade nordestina enumeradas por Maura Penna (1992), para à luz delas verificarmos a "autenticidade" da nordestinidade de seu Lunga. A primeira condição é a naturalidade, que diz respeito ao local de nascimento, se este faz parte da região geográfica Nordeste. Nascido no estado do Ceará, seu Lunga se encaixa, portanto, na primeira condição.

A segunda é a vivência, e toda a história de seu Lunga se passa na região Nordeste, a maior parte dela na cidade do Juazeiro do Norte, Ceará; a terceira condição é a cultura e é inegável o envolvimento de seu Lunga na cultura nordestina, mais especificamente na cultura de sua cidade, com suas crenças religiosas, vida política, prática comercial etc. Por último, há a auto-atribuição que é o único elemento não-empírico dessa lista. Não-empírico por não poder ser inferido pela observação. Por não poder inferir essa última condição, é que passarei à análise de seu discurso, para ver de que forma seu Lunga tem assimilado o " texto Nordeste."

Em entrevista com seu Lunga, perguntei qual era o maior problema do Nordeste. Ele me respondeu que era a seca, mas logo seu discurso mudou, e da calamidade natural, ele desviou o foco para a "injustiça que opera no Nordeste," referindo-se à falta de ação política, e ao desinteresse mesmo da classe política em agir. Ora, mais uma vez seu Lunga expressa um discurso contraditório, pois inicialmente ele culpa a falta de chuva na terra de ser a causa do maior problema da região, mas logo em seguida retoma o discurso que ele utiliza desde a primeira pergunta da entrevista: a injustiça que faz com que a construção da casa Nordeste não tenha "base," "alicerce." Lunga ao invés de enumerar os dois fatores, sobrepõem um ao outro, tornando seu discurso contraditório.

Mas o fato que interessa reconhecer nesse discurso é o agenciamento de uma imagem construída sobre o Nordeste: a seca. E essa não é a única. Quando perguntei a ele o que ele pensava que era a imagem que paulistas e cariocas têm do Nordeste, ele disse que eles pensam que "aqui era o povo tudo morrendo de fome." Ao dizer isso seu Lunga queria contestar essa visibilidade, mas ao mesmo tempo, seu discurso assumia essa imagem como verdadeira. Ele falou então que se observássemos uma empresa em São Paulo, encontraríamos "1000 funcionários paulistas e 5000 nordestinos."
A nordestinidade de seu Lunga também se observa em outros momentos.

Ao falar do homem seu Lunga, fiz referência a um forte elemento ligado à dizibilidade do nordestino, que é a religiosidade. Seu Lunga é devoto de padre Cícero, e quando se fala de Juazeiro, Cícero é a marca identitária que primeiro vem à mente de qualquer pessoa. Seu Lunga então, tem um perfil, que, em mais um aspecto confirma não só sua nordestinidade, mas também sua cearensidade.

É possível notar também marcas da regionalidade em seu Lunga em expressões que ele usa como "comer uma saca de sal junto" para poder conhecer quem realmente é uma pessoa ou "a casa caiu 'por riba' do povo tudinho," falas tipicamente associadas ao nordestino.

Monografia apresentada ao Departamento de Comunicação Social e Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

LITERATURA DE CORDEL

O QUE É E A ORIGEM
A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. Também são utilizadas desenhos e clichês zincografados. Ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até mesmo nas ruas.
Chegada ao Brasil
A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses. Aos poucos, foi se tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de literatura, principalmente na região Nordeste do Brasil. Ainda são vendidos em lonas ou malas estendidas em feiras populares.De custo baixo, geralmente estes pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre em função do preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais assuntos retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas, brigas, milagres, vida dos, atos de heroísmo, milagres, morte de personalidades etc.Em algumas situações, estes poemas são acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público.
Um dos poetas da literatura de cordel que fez mais sucesso até hoje foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Acredita-se que ele tenha escrito mais de mil folhetos. Mais recentes, podemos citar os poetas José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira.Vários escritores nordestinos foram influenciados pela literatura de cordel. Dentre eles podemos citar: João Cabral de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DICIONÁRIO CEARÊS

Uma das coisas que mais me admira nos cearenses é a criatividade para o humor, leism com atenção este "DICIONÁRIO CEARÊS " que encontrei na internet:

Abaitolado - Aquele que pode não ser, mas, tem jeito de viado.(Os dicionários de português grafam veado, mas, emcearensês, é viado, com "i"). "Fulano é meioabaitolado".
Abancar-se - Sentar-se.
Abasta!Bombasta! -Era só o que faltava!
Abestado-Otário
Abirodado-Louco.
Aboletado -Sentado sem ter sido convidado.
Aborto - Gente muito feia.
Abotoar o paletó - Morrer, bater a caçuleta.
Abrir o berreiro -Chorar espalhafatosamente alto e sem consolo;Cantar ruim. Desafinado que só um chocalho tocandodentro d'água.
Abrir o bocão -Deletar. Fofocar.
Abrir os paus - Gelar. Desistir da briga.
Abufelar- Acunhar. Agarrar, meter a peia.
Abuso - Rejeição. Abominação. "Eu tenho tanto abuso da vozdaquela mulher..."
Acanaiado - (Acanalhado) Carga torta.
Acaralhar - Avacalhar. Desandar.
Acavalado -Comilão. Grande. Avantajado.
Achar graça - Sorrir. Se abrir.
Acochado - Apertado.
Acocorado - De cócoras.
Acunhar - Chegar junto.
Adúzia ?! -Ironia usada para dizer que uma coisa está muitocara. Por exemplo: - "Seu minino, a como é acalcinha?" - "Dois rial." - "Adúzia?!"
Afolozado -Foló. Folgado.
Àforça -Na tora. Na marra.
Aguado - Com muita água. Ex. Refresco aguado...
Aguniado - Angustiado. Nervoso.
Ah uma jaula! -Diz que a outra pessoa é burra e deve ser trancadaem uma jaula.
Ai Dento -Resposta a qualquer provocação
Aí mente! -Que mentira!
Aiàgua - A água. Na versão sertaneja.
Aié? -É mesmo?
Ainda foi fazer? -Modo irônico de reclamar de alguém que foi buscaruma coisa e demorou para voltar.
Alojar -Golfar. Refugar de boca a fora o mingau que tomou.
Alpercata -Chinela artesanal feita de couro cru.
Amancebado -Amigado, aquele que vive maritalmente com outra.
Amarelo Queimado -Cor laranja.
Amarrado -Barbeiro. Motorista ruim, que amarra o trânsito.
Ande Tonha! -Expressão popular que indica o ato sexual.
Apetrechada -Dotada de beleza física .
Arranca Rabo - Quer dizer, Confusão Grande ex: tá rolando o maiorarranca rabo na casa do chiquim
Arre Égua -Interjeição que pode significar qualquer coisa adepender do tom de voz e da ocasião (alegria,irritação...).
Arrudiar -Dar a volta.
Avalie -Imagine.
Avexado (vexado) -Apressado, azafamado. No português formal,significa: Envergonhado.

Baitola - Viado. A palavra tem origem na construção daprimeira estrada de ferro do Ceará. O chefe daobra era um engenheiro inglês, muito afetado, querepetia "atenção para a baitola" se referindo abitola (distância entre os trilhos).
Baixa da Égua -Lugar distante.
Bater Fofo -Faltar, furar, não cumprir com o compromisso.
Bila -Bola de gude.
Biloto -Botão.
Boca Quente -Lugar perigoso.
Bucado, Ruma -Grande Quantidade. Ex.: Fulano come um bocado(muito).
Bunequeiro -Quem bota boneco (ver "butar buneco"), fazpalhaçada.
Burrinho -Garrafa de Coca Cola cheia de cachaça.
Butar Buneco -Criar confusão, perder a linha, farrear bastante.

Capar o Gato - Ir embora.
Cara de Broa -Sujeito do rosto redondo, gordo.
Caxaprego -Lugar distante.
Ceroto -Sujeira preta na pele devido a falta de banho.
Chapa -Radiografia; dentadura.
Chapeu de Touro -Chifre.
Chei dos Pau -Bêbado.
Chulipa - Tapa na orelha com um dedo no sentido vertical.
Cibazol-Coisa sem valor. "Não vale um cibazol".
Comedia-Programa divertido. "Hoje nos vamos prascomédias".
Corralinda -Coisa linda, pessoa bonita.
Correr Frouxo -Ter em abundância. "Ali o dinheiro corre frouxo".
Cruzeta -Cabide para camisas e calças.
Cu de Cana -Cachaceiro.
Cumelão- Garanhão, Boa-Pinta.
Custar -Demorar. "O onibus está custando muito".

Dar o Prego -Enguiçar.
Dar uma Pimbada -Transar, fazer sexo.
Diabeisso!-Que diabo é isso! Expressão de espanto.
Distrenado -Sem graça. "Fica todo distrenado quando elogiado".

Empriquitar -Cismar, não aceitar.
Engabelar -Enganar, iludir.
Escrotice -Mesquinhez, ruim, malfeito.
Escroto-Bom de briga; cafajeste.
Estribado -Cheio da grana.

Fazer Mau -Desvirginar. "Ele fez mau a moça".
Foi Mal -Pedido de desculpa.
Frescar -Fazer uma brincadeira. "Se zanga não, to sófrescando".
Fuleiro-Sujeito brincalhão.
Fulerage-Coisa sem valor.
Fumando numa Quenga-Puto da vida.
Fumar numa Quenga -Ficar puto da vida, com raiva.

Galalau -Homem alto.
Gasguita-Mulher com voz esganiçada.
Gastura-Mal estar.
Gatorrèi -Prostituta.
Gigolete -Passadeira, diadema, arco, tiara.
Guaribada -Dar uma caprichada.

Ingembrado -Torto.
Intruir -Desperdiçar.
Ispilicute-Adjetivo para qualificar crianças bonitinhas,engraçadinhas. Palavra derivada da expressão "Ispretty cute", utilizada pelos soldados norteamericanos que durante alguns anos instalaram-se no Ceará.
Ispritado -Enfurecido.

Légua -Unidade de distância muito usada no interior. Uma légua corresponde mais ou menos a 6 Km.
Leriado -Conversa fiada.
Letreca- Cafona.
Lundum -Mal humor. "Fulano tá de Lundum."

Machorrèi -cara, amigo, o meu...
Magote -Bando, grupo.
Malamanhado -Mal vestido, sem jeito.
Mane Bofão-Conhecido "restauranteur" de Fortaleza,especialista em pratos finos tais como: panelada,buchada, sarrabulho, tripa de porco,rabada,sarapatel e mão de vaca.
Mangar -Ridicularizar, Zombar.
Marmota-Coisa estranha.
Melado-Bebado.
Merol-Bebida.
Meuzovo -Expressão de discordia, uma ova. "Fulano e umpolitico honesto honesto meuzovo!
Mininorréi Amarelo -Criança chata.
Miolo de Pote -Coisa sem importância.
Mói de Chifre-Corno Inveterado.
Molenga -Preguiçoso, desanimado
Mulher Bulida -Aquela que perdeu a virgindade.
Muquira-Cafona, brega
Muquirana -Pão duro, mão de vaca, seguro. "Fulano não gostade gastar, ele é muito muquirana".
Muriçoca -Mosquito, borrachudo, pernilongo.

Nó Pelas Costas -Frescura, mania.
Noda -Nódoa, mancha na roupa.
Num Fresque Não! -Pare com essa brincadeira!

O Cão Chupando Manga -Mulher muito feia.

Pai D'égua -Porreta, legal, bacana.
Pão Sovado-Pao de massa fina.
Papel de Enrrolar Prego -Pessoa grosseira.
Paquetão -Mulher bonita, gostosa.
Pastinha (partinha) -Franja.
Pastorar-Vigiar.
Peba-Adjetivo aplicado a uma coisa ordinária. "o carrode fulano é muito peba."
Pedir Penico -Desistir de algo ou alguma coisa. "Fulano pediupenico do jogo."
Pegar o Beco-Ir embora.
Pelejar-Tentar exaustivamente.
Peraí-Quer dizer, Espere Ai ex: peraí chapa
Pitéu-Mulher gostosa. "No forró só tinha pitéu".

Quartinha-Quartinha Recipiente de barro para armazenar água.
Queima Raparigal!-Vai com tudo, grito de guerra, incentivo p/ asmeninas se agitarem.
Quenga-Prostituta, mulher da vida.
Quengo-Cabeça.
Quequihá-Como vai? O que há de novo? Expressão usada aoencontrar uma pessoa.

Racha-pelada, jogo de futebol.
Rachada-Forma com que os baitolas se referem as mulheres,com uma boa dose de despeito.
Rebolar no Mato-Jogar fora, atirar.
Reborreia-Resto, coisa que não presta.
Respeite-Expressão usada quando uma coisa é muito boa."Respeite a festa de ontem".

Sabacu-Surra.
Salseiro-Confusão.
Sem Futuro-Mau negócio, pessoa despreparada.
Sibite Baleado-Pessoa miúda, magra ("sibite" é um pequenopassaro).
Sinal-Semáforo, farol.
Só o Buraco e a Catinga-Pessoa dismilinguida. "Ele pegou uma gripe ta queé so o buraco e a catinga.
Só o Mi-Diz se de alguma coisa muito boa.
Sosto-Surtou, enlouqueceu.
Sustança-Energia dos alimentos. "Rapadura tem sustança".

Tá de Bode-Está menstruada, mau humorada. "A fulana pareceque tá de bode."
Tem é Zé-E muito dificil. " Pra tu ganhar de mim naporrinha? Tem é Zé!
Tira a Macauba da Boca-Quando alguem fala de forma inteligível.
Tirar os Calço-Se mandar.
Tô com Abuso-Estou enjoado. "Tô com abuso daquela garota."
Tô Lascado-Estou ferrado.
Triscar-Bater, tocar de Leve.
Troletada-Trombada, pancada, chibatada.
Troncho-Pessoa torta do juízo ou fisicamente, mutilado.
Trubiscado-Meio bêbado, levemente embriagado.

Último Tiro na Macaca-Diz se de uma mulher que completou 30 anos e nãose casou.
Um Olho no Gato e Outro no Peixe-Ficar muito atento a uma situação sem se desligarde outra.
Uma Pinóia-Uma ova! "Eu vou é uma pinóia!".
Umbora-Que dizer, Vamos Embora amigo ex: umbora logomachoréi
Urubuservar-Olhar atentamente. "Tô só urubuservando"
Urubuzar-Agourar, desejar má sorte, "pôr olho grande" navida dos outros

Vá Cachimba Molambo-Expressão antiga, uma maneira suave de dizer: "Váperturbar outro!".
Vá Encher o Saco do Cão com Reza-Vá aporrinhar (apoquentar) outro.
Vá pra Ponte que Caiu-Um eufemismo para: "Vá pra puta que pariu!".Coisa de gente mais comportada que se contém acusto para não apelar para a expressão mais chula.
Vá se Lascar-O mesmo que vá se danar (se dar mal). Vá Se fuderou sífu.
Vai Fazer Exame de Feze-Expressão de gozação com quem está muito bemvestido. "E aí fulano, tá bonito, vai fazer examede fezes?".
Vai pra China-Vai se danar!
Valeu! - Exclamação de agradecimento. "Valeubicho, obrigado."
Vara de Espanar a Lua-Pessoa muito alta. Varapau.
Varapau-Pessoa muito alta. "Fulano, tão novo, tá que é umvarapau!".
Váu num Pé e Volte Noutro-Vá e volte rapidamente.
Veinha - A MÃE, nas respostas aos xingamentos.
Verminoso-viciado, Fominha (futebol), tarado por algumacoisa .
Viado-Baitola, peroba(o). Em cearensês a palavra é viado e não veado como nos dicionários deportuguês. Veado, no Ceará, continua sendo oanimal sem nenhum problema.
Viçar-Tirar um onda com a cara do sujeito. "Vai viçarcom a minha cara?"
Visagem-Aparição.
Vitalina-Moça que passou dos trinta e continua solteira.
Vixe!-Expressão de espanto, Virgem Maria !
Você não é Barroso-Expressão muito usada contra pessoas teimosas quese consideram infalíveis. Teve origem nas bravatasdo General Liberato Barroso que governou o Cearádurante o regime republicano. O General Barrosoera extremamente austero e intransigente. Jamaisvoltava a palavra atrás, como se diz, mesmo queestivesse errado. Sua palavra era lei. Então opovo começou a fazer pilhérias com a teimosia dovelho e logo surgiu essa expressão que perduraaté os dias de hoje.
Voz de Taboca Rachada-Voz com timbre desagradável.

Xaboque-Pedaço retirado, com violência, de alguém ou dealguma coisa. "O fulano arrancou o xaboque do dedona pedra".
Xambregado-Embriagado, Cheio dos paus.
Xamego-Namoro muito agarrado. "A fulana gosta de umxamego amuado".
Xerém-Fubá de milho. Milho pilado.
Xereta-Fofoqueiro(a), que gosta de ficar sempreobservando a vida alheia (xeretando).
Xodó-Uma paixão. "Essa mulher é o meu xodo!".

Zambeta-Cambota.
Zebedeu-Termo pejorativo usado quando se pretende"diminuir" (menosprezar) a pessoa." Fulano é um zebedeu " ou seja, um pobre coitado.
Zerado-Qualquer coisa nova, sem uso.
Zero-cabaço - Virgem, donzela. "Comi a menina eela era zero-cabaço". (O exemplo é uma das muitaspiadas do cearense sobre virgem ou moça como sãodenominadas em cearensês).
Zoada (Zuada)-Barulho - O cearense raramente fala barulho."Fulano deixa de fazer zuada"
Zói-Forma abreviada de olhos. "Meus zói - Meus olhos"
Zolho-Forma plural, embora sem o "s", de olhos.
Zovo -Os ovos (forma plural).
Zuadento -Barulhento.
Zunha-As unhas (forma plural).
Zurêia-As orelhas (forma plural).
Zuruó-Abestalhado, abobado.
Zuvido -Os ouvidos (forma plural).

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O 1º TEATRO DO CEARÁ

TEATRO RIBEIRA DOS ICÓS



O Teatro da Ribeira dos Icós, órgão da Prefeitura Municipal de Icó, é o mais antigo teatro do Ceará. Inaugurado em 1860 e remanescente da fase áurea da cidade como centro de atividade econômica baseada na criação do gado, no cultivo das vazantes do rio Salgado e no comércio, durante o final do século XVIII até meados do século XIX, o prédio foi tombado em 1983 pelo Estado como patrimônio histórico e artístico.
O amplo espaço diante e ao lado do qual está implantado o teatro forma um conjunto arquitetônico composto pela antiga Casa da Câmara e Cadeia, o Sobrado do Barão do Crato e a Igreja do Bonfim. A praça situada defronte a essas edificações ficou conhecida como o Largo do Théberge (atual Praça Sete de Setembro), em alusão ao médico francês Pedro Théberge (1811/1864), idealizador do teatro e um dos nossos mais importantes historiadores, autor do livro Esboço Histórico Sobre a Província do Ceará, publicado em 1869 por iniciativa de seu filho, Henrique Théberge, e reeditado em 1973, pela Imprensa Oficial.


Gustavo Barroso, em À Margem da História do Ceará, lembra a rivalidade entre as cidades de Icó e Aracati e cita o anedotário, criado pelos aracatienses, segundo o qual a centenária casa de espetáculos de Icó não teria sido inaugurada solenemente por completa ausência de convidados. O historiador reproduz a versão de que a inauguração oficial não ocorreu porque nenhum representante da elite da cidade quis correr o risco de ser o primeiro a chegar, receoso de que essa pontualidade pudesse ser interpretada como típica de um exibicionismo provinciano. Conforme citação de Gustavo Barroso, as famílias icoenses vestiram suas melhores roupas e permaneceram em alerta em suas casas, mandando escravos espionar o teatro, com ordem de retornar informados sobre a aparição dos primeiros convidados. Nessa espera, a noite teria passado e a festa inaugural não teria acontecido.


O fato é que, além dessas referências maledicentes sobre a pretensa solenidade de abertura do Teatro de Icó, as escassas informações referentes à história do teatro em livros ou mesmo no Guia dos Bens Tomados pelo Estado do Ceará, não fornecem dados esclarecedores quanto à verdade dos fatos ocorridos naquela noite, em 1860.
Somente nos anos trinta, já no século XX, a historiografia do velho teatro ganha contornos mais precisos, quando, então, tem-se notícia de seu precário estado de conservação e de seu posterior processo de recuperação e reforma, empreendimento da gestão do prefeito José Pereira Curado, sob a coordenação do mestre de obras José Pereira Simão. A 17 de abril de 1935, o jornal O Povo noticia que, com recursos municipais e verbas provenientes de festivais artísticos, a Prefeitura inicia os reparos. A construção do piso de cimento em placa de duas cores, a reconstrução das alas esquerda e direita em alvenaria e os retoques na fachada principal são algumas das melhorias apontadas. Inativo em 1934, o teatro é reaberto em maio de 1935, recuperado e parcialmente reformado.


Após 1950, houve um período em que o prédio serviu de forma adaptada a exibições de filmes e na década seguinte, no foyer funcionou uma emissora de rádio. Nos anos setenta, o teto da platéia chegou a ruir e novamente o prédio sofreu interdição.
Em 1978, Francisco Augusto Veloso, chefe da Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura do Estado propôs à Secretaria de Planejamento da Presidência da República um projeto de recuperação do Teatro, assinado pelos arquitetos Domingos Cruz Linheiro e Vera Mamede Accioly. Com recursos do Programa de Cidades Históricas da Fundação Pró-Memória, o Governo Virgílio Távora em convênio com a Prefeitura de Icó, na gestão de Quilon Peixoto Farias, inicia em 1979 as obras de restauração e em outubro de 1980 o teatro é mais uma vez reaberto como espaço cênico. Da programação de reabertura, que se estendeu por todos os fins-de-semana de novembro, participam a Academia Hugo Bianchi, a Comédia Cearense e os grupos Independente de Teatro Amador, Pesquisa e Vanguarda.
O Teatro da Ribeira dos Icós necessita agora de outras intervenções no sentido de revitalizá-lo, com equipamentos e programa de animação que justifiquem a representatividade sociocultural de sua preservação ao longo de mais de cento e quarenta anos de existência e resistência




TEATRO JOSÉ DE ALENCAR

Foi inaugurado oficialmente em 17 de junho de 1910 e apresenta arquitetura eclética, sala de espetáculo em estilo art noveau, auditório de 120 lugares, foyer, espaço cênico a céu aberto e o prédio anexo, com dois mil metros quadrados, que sedia o Centro de Artes Cênicas (CENA); o Teatro Morro do Ouro, com capacidade para 90 pessoas; a praça Mestre Pedro Boca Rica, com palco ao ar livre e capacidade para 600 pessoas; a Biblioteca Carlos Câmara; a Galeria Ramos Cotôco; quatro salas de estudos e ensaios; oficinas de cenotécnica, de figurino e de iluminação; o Colégio de Dança do Ceará e o Colégio de Direção Teatral, do Instituto Dragão do Mar; a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho; e o Curso Princípios Básicos de Teatro.

A pedra fundamental do teatro foi lançada em 1896, no centro da praça Marquês do Herval, hoje praça José de Alencar, mas o projeto original não foi concretizado. Em 1904 é que foi oficialmente autorizada a construção do Theatro José de Alencar, através da lei 768, de 20 de agosto. Em 6 de junho de 1908 as obras oficialmente tiveram início, e as peças de ferro fundido que compõem a estrutura do teatro foram importadas de Glasgow, na Escócia.

No início do século, ao fazer o projeto arquitetônico do Theatro José de Alencar, o capitão Bernardo José de Mello imaginou um teatro-jardim. Mas, o jardim mesmo, só foi construído anos depois da festa de inauguração, na reforma que durou de 1974 a abril de 1975. O jardim ocupa todo o espaço vizinho ao teatro, pelo lado leste.

O novo prédio, conhecido como anexo, foi incorporado ao Theatro José de Alencar na reforma realizada de 1989 a 1990.

http://www.secult.ce.gov.br/TJA/principal.asp

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O 1º CINEMA DE FORTALEZA

Vamos saber hoje um pouco sobre a história do cinema em Fortaleza.


A maior exibidora de capital nacional do país, o Severiano Ribeiro é uma empresa familiar, que está em sua terceira geração.O primeiro ato desta trajetória cinematográfica aconteceu em Fortaleza, no ano de 1917: Luiz Severiano Ribeiro, fundador do grupo, inaugurou o Majestic, primeiro cinema importante construído na capital cearense.

ANTIGA FACHADA DO CINE MAJESTIC FORTALEZA
Década de 40

O cine Rex (Fortaleza) é reaberto como uma empresa de Luiz Severiano. O filme “O Sabotador”, de Alfred Hitchcock, leva o público ao delírio. Os freqüentadores do local eram chamados de “geração Rex”.

Década de 50

O Palácio foi cenário de mais uma evolução da indústria cinematográfica. Nesta década, lançava com exclusividade no Brasil o cinemascope, com o filme “O Manto Sagrado”. Inaugurado São Luiz de Fortaleza – a obra demorou 20 anos para ser finalizada. O São Luiz de Fortaleza foi uma homenagem pessoal de Severiano Ribeiro para a cidade.

Anos 2000

Foi construído o cinema no Shopping Iguatemi, de Fortaleza, em parceria com a UCI.

Luiz Severiano Ribeiro – o fundador

Samuel Tabosa, veterano e exemplar funcionário do grupo Severiano Ribeiro O Ceará produziria no talento e personalidade dinâmica de Luiz Severiano Ribeiro não apenas um dos seus mais brilhantes pioneiros, mas aquele que iria assumir a nível nacional, uma inconteste liderança no setor da exibição cinematográfica e depois na produção de cinema em nosso país. Nascido em Baturité, aprazível cidade serrana do Ceará, no dia 3 de junho de 1885, filho do médico Luiz Severiano Ribeiro, que integrou os serviços médicos na guerra do Paraguai, e de Maria Felícia Caracas Ribeiro, veio prosseguir seus estudos e ganhar a vida em Fortaleza quando tinha por volta de dezenove anos de idade. Exerceu funções modestas, como gerente de hotel próximo à estação central de trens, mas, ativamente dedicado às suas funções de trabalho, ascenderia no mundo dos negócios. Em 1910, aos 26 anos de idade, casou-se com Alba Morais. com quem manteria uma tranqüila união conjugal por cinqüenta e oito anos. Os primeiros tempos não foram fáceis para a esposa, como narra em livro F. Silva Nobre: "com três meses de casada, inconformada com a vida que o marido levava, foi ao pai queixar-se de que Luiz parecia não lhe ter amor, já que pouco estava ao seu lado e nunca lhe dava a mínima importância. O sogro, cioso da felicidade da filha, procurou apurar o que acontecia realmente e verificou que o genro passava o tempo trabalhando, a ponto de exaustão, e depois de alguns dias aconselhou a filha a ter compreensão." O casal teve cinco filhos: Luiz Severiano Ribeiro Junior - depois sucessor do pai à frente da empresa, Germana Ribeiro de Lamare, Lais Ribeiro Pinto, Iolanda Ribeiro Portela e Vera Severiano Ribeiro de Sóllis. A primeira oportunidade comercial foi sua sociedade com Oscar Araripe, em 1912, proprietário da Livraria Menescal. Em 1915, com recursos próprios, instala a Livraria Ribeiro, localizada à rua Major Facundo, nº 92, chegando a criar uma subsidiária de sua firma em Recife. Por essa época, diversifica seus negócios com o arrendamento ou criação de estabelecimentos diversos, como hotéis, dentre os quais o Majestic Palace e o Hotel de França, sucessor do velho Hotel De France, criado no século passado pelo francês Hippolite Dragaud; uma fábrica de gelo - à rua Santa Isabel, 220; o Café Riche e a barbearia Maison Riche, ambos na Praça do Ferreira; o salão de bilhar no Majestic Palace; e outras iniciativas comerciais. Nessa linha de expansão é que se volta para o cinema. Seu ingresso como exibidor de cinema ocorre ao instalar o Cinema Riche, no dia 23 de dezembro de 1915, no mesmo local em que o velho Victor Di Maio iniciara as exibições permanentes em Fortaleza. Severiano Ribeiro tinha então como seu sócio capitalista, já que este nunca se dedicou efetivamente a gestão de cinema, o destacado empresário e emérita figura da sociedade cearense Alfredo Salgado, um dos sócios instaladores da sociedade Perseverança e Porvir, em 1880, dedicada à luta pela abolição da escravatura, transformada depois na Sociedade Cearense Libertadora. Foi certamente Luiz Severiano Ribeiro o articulador do denominado "trust" exibidor em janeiro de 1916, pelo qual Fortaleza permaneceria apenas com dois cinemas. Como referia-se o "Correio do Ceará" (18.1.16). A 3 de março, a união decidiria pelo fechamento do Rio Branco e a reabertura do Riche. Com a dissolução da "união cinematográfica", a 3l de dezembro de 1916, Luiz Severiano Ribeiro, fortalece o seu Cinema Riche, e prepara-se em sociedade com Alfredo Salgado para o seu definitivo domínio da exibição cinematográfica em Fortaleza: a inauguração do luxuoso Cine-Theatro Majestic Palace, no imponente edifício construído pelo capitalista Plácido do Carmo, a 14 de julho de 1917, inviabilizando os concorrentes menores. A estes, Luiz Severiano Ribeiro oferecia contratos de fechamento pelo prazo de dez anos, mediante retribuição financeira mensal. Até o final dos anos 10, Luiz Severiano Ribeiro teria sua base cinematográfica, em Fortaleza, com os cinemas Majestic-Palace, Polytheama e Riche. Seus únicos concorrentes remanescentes, os cinemas Cassino Cearense, da família de Júlio Pinto, e o Rio Branco, de Henrique Mesiano, sucumbiriam através de acordos comerciais de fechamento. Nos anos 20, ressalvado os cinemas de bairros, geralmente mantidos por associações religiosas, a empresa de Luiz Severiano Ribeiro, teria maior ascensão com a abertura do Cinema Moderno, a 7 de setembro de 1921, e a reinauguração do Polytheama, a 19 de março de 1922. Como a capital federal tinha em Francisco Serrador, o artífice da Cinelândia, o grande monopolizador dos cinemas de qualidade, atuando de forma autônoma e independente, Luiz Severiano Ribeiro ganha pouco a pouco credibilidade e ingressa na associação da Metro-Goldwyn, First National e Empresas Cinematográficas Reunidas, criando em 1926 uma nova e poderosa frente para distribuição de filmes no Brasil. Batalhador tenaz, estabelece-se a seguir como agente locador de películas trazidas ao Brasil pela Agência Paramount (que representava à época a Metro-Goldwyn e a First National) e a Cinematográfica Brasileira. é um dos fundadores, em 1926, da sociedade cooperativa de exibidores denominada "Circuito Nacional de Exibidores". A firma individual Luiz Severiano Ribeiro, foi estabelecida a 7 de abril de 1930, quando já se lhe reconhecia um empresário competente. Em maio de 1932, reformava o seu Cinema-América, na rua Conde de Bonfim, equipando com aparelhos Western Electric. No dia 27 de outubro de 1932, inaugura em Vila Isabel, o "Cine Maracanã", em sociedade com Luiz Caruso. Incorporando muitas vezes pequenos e velhos cinemas da capital, expunha-lhe a riscos e exigia intensa supervisão. Destacando-se por novos empreendimentos, é eleito, em 1933, presidente do récem criado Sindicato Cinematográfico de Exibidores, composto por figuras como Francisco Serrador, Júlio Marc Ferrez, Domingos Vassalo Caruso e Domingos Segreto. Em 1934, assumiu dois importantes cinemas de Petrópolis, o Capitólio e o Petrópolis. Em 1935; em Copacabana, no Rio de Janeiro, aos seus dois cinemas Atlântico e Copacabana vinha somar um novo salão por ele construído, o Lido. Na rua da Carioca, Severiano Ribeiro manteve dois cinemas, o Ideal e o Iris, e em 1935, fez construir o Plaza, na rua do Passeio, e o Floriano, na rua Marechal Floriano. De 1933 a 1935, Luiz Severiano Ribeiro ampliava de 12 para 30 cinemas, apenas no Rio de Janeiro. A década de 30, traz ainda uma grande vitória para o pioneiro exibidor, quando inaugura no Rio de Janeiro, o Cinema São Luiz, a 22 de dezembro de 1937, localizado no Largo do Machado, o melhor e mais suntuoso cinema brasileiro daquela época, capitaneando o seu circuito de modernos cinemas.. Recolhemos da revista "Cinearte" (Nº 414, 1.5.35) uma nota esclarecedora do empenho e do potencial do empresário cearense: "Conversando há dias com pessoa muito chegada ao ativo "trustman" cuja esfera de ação extende-se da Galeria Cruzeiro até os rincões do extremo norte, ouvimos o seguinte: -Luiz Severiano Ribeiro pretende desenvolver sempre e cada vez mais seus negócios. Ninguém se espante se depois de absorver o norte, a capital da República, Niterói e Petrópolis, voltar suas vistas para o setor sul, onde o terreno não será menos propício. Ele costuma dizer: -"Devo às próprias companhias importadoras de filmes o desenvolvimento de minha tarefa. Elas de tal maneira colocaram os exibidores independentes em um cerco de exigências, que os levaram a socorrer-se de minha organização para poderem viver..." Evidentemente Luiz Severiano Ribeiro leva sobre os seus concorrentes vantagens tais que lhe permitem até associá-los garantindo-lhes as médias de retiradas que costumavam fazer, sem outras preocupações. Contratando a produção de uma agencia, o faz por determinado espaço de tempo, dentro do qual faculta-se o direito de exibir cada film em quantos cinemas possuir. E ainda gosa de regalias de não despender verbas de propaganda que estas foram feitas pelo primeiro exibidor, embora ele aufira os maiores proveitos..." O talento cearense reafirma-se quando, após graduar-se em Londres, regressa Luiz Severiano Ribeiro Junior, a quem é dado presidir a organização de âmbito nacional Companhia Brasileira de Cinemas. Tendo ao lado, o seu filho e sucessor, expande seus negócios à produção e distribuição cinematográfica no Brasil, instituindo a Cinematográfica São Luis Ltda., a Distribuidora de Filmes Brasileiros - DBF, e a União Cinematográfica Brasileira -UCB, lançando os jornais da tela "Esporte na Tela" e "Notícias da Semana", e, a partir de 1947, ao assumir o controle da Atlântida Cinematográfica S.A., criada seis anos antes, concede-lhe o status de produtora de sucesso com presença obrigatória na sua rede de duzentos cinemas espalhados por todo o território nacional. Nesse último empreendimento, lança o cinejornal "Atualidades Atlântida" e abre espaço para o período de ouro da chanchada cinematográfica musical brasileira, alegria de uma geração de cinéfilos. As capitais brasileiras que contribuíram para a edificação do império do grupo Severiano Ribeiro tiveram também a recompensa com modernos salões de exibição. Fortaleza, terra que lhe deu o apoio a grande ascensão empresarial, recebeu dois dos seus melhores cinemas: o Diogo, inaugurado a 7 de setembro de 1940, e o São Luiz, no dia 26 de março de 1958, hoje patrimônio da cidade. Sua presença forte no mercado exibidor de nossa capital não permitiriam a sobrevivência das duas heróicas tentativas de geração de circuitos independentes, iniciativas de Clóvis de Araújo Janja, em 1940, e Amadeu Barros Leal, em 1950. O velho empresário batalhador, transferiu o comando do seu império, em 1971, aos 86 anos de idade, para o filho Luiz Severiano Ribeiro Filho. No dia 1° de dezembro de 1974 falecia, no Rio de Janeiro, aos 89 anos de idade, vitima de enfarte, quando convalecia de ato cirúrgico. Seu imenso trabalho pela edificação da maior rede de espetáculos de nosso país, mesmo após enfrentar as graves restrições que se abateram sobre o mercado de cinema, encontra-se ainda hoje em expansão, marcando presença pelos novos cinemas que foram instalados a partir do surgimento dos shopping centers brasileiros. .
[Obs: As citações e transcrições, que aparecem neste texto, conservam a grafia e as regras gramaticais da época em que foram originalmente escritas ou publicadas.]


[REPRODUÇÃO PERMITIDA INDICANDO OS CRÉDITOS DO AUTOR]
Capítulo do livro – "FORTALEZA E ERA DO CINEMA"[PESQUISA HISTÓRICA – Volume I, 1891-1931], de ARY BEZERRA LEITE [Rua Coronel Jucá, 510. Ap. 303 – 60.170-320 – Fortaleza, Ceará, Brasil]





CASA AMARELA EUSÉLIO OLIVEIRA

A Casa Amarela Eusélio Oliveira, da Universidade Federal do Ceará, funciona desde 1971, oferecendo cursos de animação, cinema e fotografia.

ONDE FICA
Av. da Universidade, 2591, Benfica.

POR QUE IR

Os cursos de História do Cinema, com a participação do crítico Firmino Holanda - a pessoa que mais entende de crítica cinematográfica no Ceará - são bastante procurados. Além dos cursos, em geral, a Casa Amarela tem um acervo de mais de 2,5 mil videos e uma sala de cinema que exibe mostras de filmes de arte.

QUANDO IR

A programação pode ser consultada pelo telefone.

QUEM VAI

Estudantes universitários e cinéfilos.

CONTATO

Tels: (85)4009-7773 ou (85)4009-7300.


1° FILME CEARENSE

No dia 1º de abril de 1910, o Cinema Rio Branco, exibia o documentário "A Procissão dos Passos", com o destaque na publicidade para o fato de ser este "o 1º filme rodado no Ceará". Além dessa informação, não temos nenhum outro esclarecimento. Desconhecemos quem o teria feito, se algum conterrâneo ou algum cineasta visitante que aqui tenha aportado. Um segundo filme produzido em nossa terra, igualmente sem os créditos de seus realizadores, foi o "Ceará Jornal", exibido no Cinema Riche, no dia 26 de fevereiro de 1919.

Não há dúvidas, entretanto, quanto ao pioneirismo na produção documental, de qualidade técnica, do cearense Adhemar Bezerra de Albuquerque, nascido em Fortaleza, em 19 de julho de 1892, e falecido, aos 83 anos de idade, no dia 17 de julho de 1975. Paralelo à sua atividade artística, foi funcionário por 40 anos do Bank of London. Aqui constituiu família, casando-se com Lasthenia Campos de Albuquerque, tendo o casal nove filhos: Francisco Afonso, Antonio Afonso, Paulo Afonso, Pedro Afonso, Suzana, Lastenia, Maria Lucíola, Marta e Luis Afonso.

Sua criatividade artística teria uma manifestação inicial no campo da fotografia e do cinema, com destaque para a criação da Aba Film, empreendimento definitivo no ramo de fotografia, e que alcança até hoje, sob a direção de seu filho, Antônio Albuquerque, o melhor padrão de qualidade.

Tem-se o ano de 1924 como a data de lançamento de seus primeiros filmes, documentários em 35 milimetros, de aspectos e acontecimentos da Fortaleza e cidades interioranas. De fato a imprensa local registra com louvor o esforço de Adhemar Albuquerque, comentando o filme "Temporada Maranhense de Foot-Ball no Ceará (1924, 2 atos, realização de Adhemar Albuquerque, com o seguinte conteúdo: Fases dos jogos: Ceará 4 x 2 Maranhenses; Maranhenses 2 x 0 América; Maranhenses 2 x 1 Fortaleza; Guarany 4 x 0 Maranhenses), por ele lançado no Cinema Moderno, no dia 15 de outubro de 1924. Sobre essa estréia, publicou o "Correio do Ceará" (16.10.1924):

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MINIMALISMO EM FORTALEZA

JARED DOMICIO

Este cearense "minimalista" é mínimo até em detalhes da sua biografia, confira o site dele (no final da postagem) você vai adorar... O site é super minimalista...rsrsrs

1973. nasce em fortaleza ce

1995. participa de cursos de história da arte e xilogravura no galpão de arte. fortaleza ce

1996. Participa de cursos de monitor de exposição, pintura, desenho no instituto dragão do mar de arte e cultura. fortaleza ce

1998. trabalha no núcleo de Animação da Casa Amarela eusélio oliveira. fortaleza ce

1999. participa do curso de Fotografia do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura. fortaleza ce e do Grupo estudos de arte “bila”.

2001. é Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Participa do grupo de estudos de artes visuais do alpendre – casa de arte, pesquisa e produção. fortaleza ce

2003. é selecionado para a Bolsa pampulha. belo horizonte mg

.funda, com os artistas paulo nenflidio e cristina ribas, o projeto da Casa de Passagem, belo horizonte mg.

domingo, 4 de outubro de 2009

FUTURISMO EM FORTALEZA

Hoje ao abrir o jornal Diário do Nordeste, especificamente o caderno 3, me deparei com uma matéria sobre os 100 anos do Futurismo, que teve seu primeiro manifesto publicado oficialmente no dia 20 de fevereiro de 1909, com esta inspiração do acaso resolvi postar hoje informações sobre o Futurismo no Ceará.

Como este tema já me é familiar (apresentei seminário sobre esta vanguarda na aula da professora Sanches) sabia que este movimento não teve muita persuasão no Brasil, muito menos no Ceará, mas foi dele que surgiu o modernismo, no Brasil a Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922, de 11 a 18 de fevereiro, no Teatro Municipal.

Entre estes modernistas encontrei Antônio Bandeira (Fortaleza, 1922 — Paris, 1967)que foi um dos pintores e desenhistas brasileiros modernistas.


É um dos mais valorizados pintores brasileiros, e tem obras nas maiores coleções particulares e museus do Brasil e do mundo.

Junto com Aldemir Martins, Inimá de Paula e outros, fez parte do Movimento Modernista de Fortaleza, nos anos 1940.

Renomeado mestre da pintura abstrata brasileira - e também mestre das aquarelas -, viveu grande parte de sua vida na França. Conviveu com os pintores da tradicional École de Paris, integrando-se a eles plenamente até seu retorno ao Brasil em 1960.

Faleceu em Paris, em conseqüência de um choque pós-operatório numa prosaica operação de extração de amígdalas.

LETRAS E REBELDIA


A década de 20 é o marco do primeiro Modernismo no Ceará, com a publicação do livro O Canto Novo da Raça, em 27. A criação do jornal O POVO em 28, por Demócrito Rocha, estimula a produção de poetas modernistas

Em 1922, o Brasil comemorava seu centenário da Independência. Enquanto São Paulo celebrava sua Semana de Arte Moderna, o centenário deixava testemunhos materiais em Fortaleza, entre eles, o monumento do Cristo Redentor - em frente ao Seminário da Prainha - e o lançamento da Antologia do Centenário, com foco nos "medalhões" da literatura cearense, como Rodolfo Teófilo, Antônio Sales e Juvenal Galeno. "Os jovens da época se revoltaram e fizeram a Antologia dos Novos, com Jáder de Carvalho e outros escritores de 20 e poucos anos", afirma o professor de Literatura da Unifor, Batista de Lima. Em 1924, Demócrito Rocha dirige a revista Ceará Ilustrado, que causa rebuliço na cultura cearense, com espaço para "literatura, artes e mundanismo" como indicava seu subtítulo. "A revista trazia fotos de crianças e moças de boas famílias, além de contos, novelas e poesias. Era o início da construção de um espaço letrado, chegando a promover até mesmo concurso para a escolha do príncipe dos poetas cearenses, que ficou com Padre Antônio Tomás", pontua o historiador Antônio Luiz Macedo e Silva Filho.

De acordo com o escritor e memorialista Alberto S. Galeno, em A Praça e O POVO (Stylus Comunicações, 1991), os poetas costumavam freqüentar os cafés da Praça do Ferreira, principalmente na movimentada esquina da Rua Palma (Major Facundo) com a Travessa Municipal (Guilherme Rocha), onde havia, à esquerda, o elegante café e restaurante Maison Art Nouveau e, à direita, o Café Riche. "Era lá onde os menestréis maiores do Ceará reuniam-se para declamar seus versos de ouro, enchendo o ambiente de ritmos e de magnificiência", diz Galeno. Com os versos de Laus Purissimae, do poeta Mário da Silveira (1899-1921), a literatura cearense começava a preparar o terreno para o Modernismo. "Esse poema de Mário da Silveira apresentava não só a polimetria - mistura de vários versos - mas também versos livres", explica Sânzio de Azevedo, professor do Departamento de Literatura da UFC.

No entanto, o Modernismo no Ceará só chega efetivamente em 1927, com o livro O Canto Novo da Raça, editado pela tipografia Urânia, que também publicaria em 1930, O Quinze, de Rachel de Queiroz. O Canto Novo da Raça traz poesias modernistas de Jáder de Carvalho, Franklin Nascimento, Sidney Neto e Mozart Firmeza. "Livrinho mais horizontal que vertical, sem numeração das suas quarentas páginas. Na capa, a dedicatória, não a Guilherme de Almeida, o arauto paulista da nova estética, mas a um poeta do Rio de Janeiro: 'Homenagem a Ronald de Carvalho'", comenta Sânzio, em O Modernismo na Poesia Cearense (Secult, 1995).

O primeiro Modernismo cearense distinguia-se daquele da Semana de 22. "A nota regional impressiona os poetas do Ceará. O que caracteriza nosso Modernismo é o telurismo. Em O Canto Novo da Raça, misturam-se tendências regionalistas, com Jáder de Carvalho; patriotismo, com Sidney Neto; traços de futurismo, com Franklin Nascimento; e penumbrismo, com Mozart Firmeza", afirma Sânzio. Nas edições de 7 e 8 de fevereiro de 1928 do jornal A Esquerda, Jáder de Carvalho comenta sobre a crítica feita pelo escritor carioca Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Atahyde, acerca de O Canto Novo da Raça. "Eu dizia há pouco que acima de Pernambuco, o Norte andava calado. Chegam-nos agora essas vozes novas lá da terra de Iracema, que no século passado sempre esteve entre os da frente", animava Tristão (Camila Vieira).


O POVO E O MODERNISMO

Outro passo importante para a intensificação do Modernismo no Ceará foi a fundação do jornal O POVO por Demócrito Rocha, em 7 de janeiro de 1928. Com sua página intitulada Modernistas e Passadistas, o jornal apresentava poesias dos principais nomes do movimento na época: Mário Sobreira de Andrade, o Mário de Andrade (do Norte); Filgueiras Lima; Edigar de Alencar (já radicado no Rio de Janeiro); Heitor Marçal; Rachel de Queiroz (que assinava como Rita de Queluz); Antônio Garrido (pseudônimo de Demócrito Rocha); Mozart Firmeza (Pereira Júnior); Martins d'Alvarez e outros vanguardistas. É na edição de 7 de janeiro de 1929 de O POVO, que Demócrito publica seu célebre poema modernista, O rio Jaguaribe é uma artéria aberta.
Para marcar ainda mais seu posicionamento modernista, O POVO agrega a partir de 1929 o suplemento literário Maracajá, que circulou apenas em dois domingos, mas foi suficiente para aglutinar o que havia de melhor na produção literária modernista cearense. "Destinava-se Maracajá a pregar o modernismo pelas terras nordestinas, e nele todos nós desferimos vôo, convencidos de que fazer modernismo era escrever regionalismo, com grande gasto de índios, antas, cocares e mais brasilidades, em frases de três palavras. Sei que tivemos a glória insigne de nos ver lidos e comentados por alguns dos grandes do Rio e São Paulo - para nós, então, as duas metades inacessíveis do Paraíso", comentou Rachel de Queiroz, citada por Sânzio de Azevedo (O Modernismo na Poesia Cearense).

Os poetas não poupavam referências ao Brasil rústico e selvagem. No mesmo ano, Demócrito escreve em O POVO: "O modernismo que eu entendo é esse que nós fazemos: modernismo nacional, saturado de tudo quanto é nosso, original, sugestivo, impressionante..." Além de Maracajá, a publicação Cipó de Fogo - em 27 de setembro de 1931 - exerceu importância na divulgação do Modernismo cearense, embora não tivesse passado do primeiro número. Na opinião de Filgueiras Lima, citado por Sânzio (O Modernismo na Poesia Cearense), Cipó de Fogo "evidenciou a última grande atitude do modernismo no Ceará, na sua fase primeira, inegavelmente a mais fecunda e mais brilhante" (CV).

sábado, 3 de outubro de 2009

SURREALISMO EM FORTALEZA

FLORIANO MARTINS
Para mapear a influência do Surrealismo na poesia do continente americano, o poeta Floriano Martins decidiu, além de fazer um estudo introdutório, reunir os nomes mais representativos que se deixaram influenciar pelo movimento em suas produções. E produziu "Un nuevo continente: antología del Surrealismo en la poesía de Nuestra América", lançado em 2004 pela Ediciones Andrómeda, de San José da Costa Rica.
Nascido em Fortaleza, Ceará, em 1957, onde reside, Floriano Martins é poeta, ensaísta, tradutor e editor, mas especialmente tem se dedicado a estudar a literatura hispano-americana, sobretudo em relação à poesia. É autor de Escritura Conquistada (Diálogos con poetas latinoamericanos), de 1998, e El inicio de la búsqueda (El Surrealismo en la poesía de América Latina), de 2001.
Em 1998, publicou traduções de Poemas de amor, de Federico García Lorca, e Delito por bailar chá-chá-chá, de Guillermo Cabera Infante, seguidas de Dos poetas cubanos, de Jorge Rodríguez Padrón, de 1999, Tres entradas para Puerto Rico, de José Luis Vega, de 2000, e La novena generación, de Alfonso Peña, de 2000. Publicou ainda as obras de poesia Alma em chamas (1998), Cenizas del sol (2001), Extravío de noches (2001) e Estudos de pele (2004).
Alma irrequieta, Martins ainda encontra tempo para editar, juntamente com o poeta Claudio Willer, de São Paulo, a revista eletrônica Agulha (www.revista.agulha.nom.br), coordenar o projeto “Banda Hispânica” do Jornal de Poesia e ainda dirigir, em colaboração com Maria Estela Guedes, o dossiê surrealista “Poesia e Liberdade” na revista eletrônica TriploV, de Portugal.
Como ensaísta fez, em novembro de 2003, na Academia Brasileira de Letras, a conferência “O Surrealismo no Brasil”, que acaba de sair no segundo tomo de Escolas Literárias do Brasil, edição em dois volumes coordenada pelo poeta Ivan Junqueira, presidente da instituição. O texto é, sem dúvida, aquele que mais bem situa historicamente a presença do Surrealismo em terras brasileiras.
Diz Martins que o Surrealismo penetrou na cultura brasileira “de forma indireta, tendo como pontos de costura tanto as afirmações de Flávio de Carvalho, Jorge de Lima, Aníbal Machado, como as simpatias de Pagu e Murilo Mendes e posteriormente a participação mais estranhável de Maria Martins”. Oficialmente, porém, o Surrealismo chega ao Brasil em 1965, com o estabelecimento de um grupo surrealista em São Paulo, capitaneado por Sérgio Lima, que aderira ao grupo parisiense em 1961, quando de sua residência na França.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

HIPER REALISMO EM FORTALEZA

HÉLIO ROLA


O artista plástico Hélio Rola (Fortaleza, 1936), dentre inúmeras outras atividades, é um dos heróicos remanescentes da chamada arte postal, com a particularidade de não havê-la cultivado da maneira anódina como era praticada nos anos 70, e que logo desaguaria em um grafismo sem substância alguma. Plasticamente, Hélio deu a essa arte postal a condição de um diálogo constante com as demais técnicas (guache, xilogravura, nanquim, escultura etc.) às quais segue recorrendo para expressar sua visão de mundo. Com obra tão extensa quanto múltipla, esse artista tem exposições em países como Alemanha, Espanha, França e Estados Unidos. A presente entrevista permite uma aproximação de várias etapas de sua vida e criação, aspectos que se confundem revelando uma afortunada inquietude.

vejamos: nasci em Fortaleza em 1937 e me iniciei nas artes plásticas criança ainda quando riscava, desenhava nas calçadas da vizinhança com outras crianças. Também sofri de influência de D. Eneida, mãe de amigos meus, que desenhava, com perfeição, artistas de cinema e caras bonitas encontradas em revistas e jornais. Aquilo me fascinava e logo estava eu às voltas com o hiper-realismo. Fazia arte pública, grafites, e logo desenhos a lápis, seguidos de desenhos a tinta nanquim, guache etc. Passei então a fazer guaches combinando com tinta nanquim de cenas de meu cotidiano. Lembro-me que uma dessas tentativas era na cena habitual de nossa orla, nos fins de semana, debaixo de um grande pé de fixus-benjamin, no jogo de baralho que os adultos da orla organizavam. Esses desenhos despertavam admiração e cheguei mesmo a ganhar uns trocados fazendo retratos a lápis que melhoraram quando fui levado a visitar e conhecer Jean-Pierre Chabloz. Fiquei encantado com os desenhos de Chabloz. Meu pai era garçon de um bar-restaurante no centro da cidade, o Majestic, que também tinha cinema. Para lá iam todos - políticos, advogados, médicos etc., e também artistas. Meu pai, Antonio Rola, era amigo do poeta Sidney Neto, do cronista Caio Cid, do artista R. Kampos, dentre outros. Acho que de tanto propalar que tinha um filho pródigo, que desenhava e pintava, alguém lhe disse que me levasse para conversar com algum artista. Só me lembro que foi o Antonio Bandeira - no Salão de Abril, na antiga Assembléia, no centro da cidade - quem viu meus desenhos e me aconselhou a freqüentar a SCAP, e assim se deu. Teve até nota em jornal dizendo que o filho do garçon Antonio Rola era um artista etc. Depois da SCAP, continuei estudando, conseguindo uma bolsa de estudos de um deputado estadual por Russas (Ceará), Manuel Matoso, e fiz o ginasial e o científico no Colégio São João, um colégio de elite. Daí passei no vestibular em primeiro lugar e me formei em medicina, seis anos depois, em 1961. Entre 62 e 64, fiz pós-graduação na USP (São Paulo), e defendi tese em 66, obtendo o título de Dr. em Medicina. Voltei então para Fortaleza e me tornei professor de bioquímica na Faculdade de Medicina da UFC. Em 1967, fui para Nova York, fazer pós-doutorado, como assistente de pesquisa, no Instituto de Saúde Pública de Nova York, onde fiquei até 1970. Em meio aos afazeres científicos, um dia recebi visita de um casal que queria me conhecer por ser brasileiro, pois pretendia saber como localizar literatura sobre bandoleiros do Nordeste, especialmente Lampião. Ele, Joe Tobin, se apresentou como pintor e ela, Margareth, como escritora. Através de um tio que morava em Russas, consegui uns três livros que me foram enviados pouco tempo depois. Eles ficaram extremamente gratos, daí nascendo uma feliz amizade entre nós. Eu estava em Nova York com a família, minha esposa Efi e os filhos, André (4 anos) e Sílvia (1 ano). Por conta das conversas sobre arte, e não somente sobre ciências, retomei a emoção de minha infância e voltei às artes plásticas. O Joe Tobin me deu orientação durante um certo tempo, em seu ateliê particular na rua 14. Um velho prédio famoso por abrigar artistas ao longo do tempo. Posteriormente ele me aconselhou a procurar a pintora Agnes Hert, que era instrutora de pintura na Art Students League, e que também tinha ateliê no mesmo prédio. Tratei então de me matricular ali. Estudava aos sábados, a tarde inteira. Passei a freqüentar museus e galerias, muitas vezes acompanhado de minha instrutora, uma excelente pessoa, com aproximadamente uns 50 anos. Ao final de minha estadia em Nova York fiz uma exposição em nosso apartamento. Tiramos todos os móveis do lugar e os trancamos em um quarto. De repente, havia ali uma galeria funcionando. Algumas coisas foram vendidas. Ainda em Nova York, fui influenciado por um amigo brasileiro que me iniciou em fotografia, que foi extremamente oportuno e importante para mim, em meu fazer artístico.



Eu e minha família começamos a pintar muros na Praia de Iracema, bairro onde morávamos, para acabar com o lixão que existia na esquina da rua Potiguares com Tremembés. Muitos amigos participaram das pinturas que aconteciam nos finais de semana, inclusive o Sérgio Pinheiro. Anos depois, em 1987, quando de nosso retorno de Paris, Sérgio e eu, é que ele teve a idéia de organizar um grupo de artistas para pintar muros, inicialmente apenas no mesmo bairro. Daí surgiu o Grupo Aranha, que era formado por mim, Sérgio Pinheiro, Eduardo Eloy, Kazume e Alano de Freitas, dentre outros. O grupo não era fechado e nem sempre tinha a mesma composição nas performances. O ateliê, depósito de tintas e material de pintura, era na minha casa. É claro que conciliar essa diversidade de artistas não foi tão simples. Primeiro começamos pintando cada um a sua coisa. Dividíamos o muro em quatro partes iguais (democracia?) e cada um pintava a sua. O resultado, apesar do lado a lado, era um painel de individualidades. Depois evoluímos, passando a pintar todos o projeto de alguém. Pintamos o muro de uma mercearia seguindo um projeto de Kazume. Lembro-me que o Eduardo Eloy estava no Uruguai e não participou, mas teve seu retrato incluído na pintura. Bom, a evolução veio por conta dele mesmo, Eloy, que defendia uma pintura solta/ação, que envolvesse a todos. Como nesses termos eu já me entendia com ele - havíamos pintado a quatro mãos em outra oportunidade -, fiquei entusiasmado. O tipo de pintura daí surgida, revelava uma diluição de autoria e fazia com que afluísse um autor coletivo. Havia resistência por parte dos demais, que temiam - segundo penso - que aquela maneira de pintar viria a afetar sua própria arte. Os murais na Praia de Iracema deram o que falar. Como fazíamos carga contra a poluição sonora e a ocupação indevida dos espaços urbanos - tendo isto coincidido com o movimento SOS Iracema -, passamos a ser notícia nos jornais locais, enquanto sofríamos as retaliações do mercantilismo corrosivo (travestido de turismo) que ali se implantava. Uma dessas pinturas, em um dos muros do bairro, em frente ao atual bar Bicho Papão, foi desfigurada, na calada da noite, pelo proprietário de outro bar, que se achou injustiçado e agredido pelo mural. Como você vê, a pintura, as artes plásticas, pela primeira vez aqui entre nós se tornava uma prática artística explicitamente revolucionária (?), que denunciava com arte agressões sofridas pelo bairro.

SITE: http://heliorola.sites.uol.com.br/

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

POP ARTE EM FORTALEZA

CARLINHOS MORAIS



Nascido em Fortaleza, em 1951, Carlinhos morais iniciou sua carreira em 1968 e ficou conhecido principalmente por suas tapeçarias que inicialmente atendiam “tematicamente às imagens regionais e imediatas da infância e da vida comunitária” (Walmir Ayala, março de 1980). Da inspiração primitiva vista em suas primeiras peças para as de forte abstração geométrica, em que predominam volumes cilíndricos e tridimensionais.


Seus desenhos e pinturas que representam um outro momento não menos importante de sua obra situado nos anos 80. Desse período ele guarda uma familiaridade com o colorido vibrante que retornava à pintura com ressonância na figuração da pop art.

Óleos

1968 - Fortaleza-Ce - Salão dos Jovens, com premiação
1969 - Fortaleza-Ce - III Salão de A. Plásticas Prêmio Aquisição
1969 - Fortaleza-Ce - Salão de Abril
1969 - Texas Coletiva de Primitivos

Tapeçaria

1969 - Fortaleza-Ce - 1ª Individual no Ideal Clube
1970 - Fortaleza-Ce - Individual - no Palácio da Abolição - Inauguração
1970 - Fortaleza-Ce - A bordo do navio Ana Néri
1971 - Rio de Janeiro - Galeria Montmartre
1971 - São Paulo - Individual - Galeria " A Tapeçaria"
1972 - Fortaleza-Ce - Individual na Galeria "Gauguin"
1973 - Belo Horizonte - Individual na Galeria "Guignard"
1973 - Brasília - D.F. - Individual - Hotel Nacional
1974 - Rio de Janeiro - Individual - Real Galeria
1974 - São Paulo - Individual - "Galeria Kompass"
1974 - Geneve - Europa - Individual - Galeria Triptyque
1974 - Milão - Ialta Galleria D'arte Ítalo - Brasileira
1975 - Salvador-Bahia - Museu do Estado da Bahia
1977 - Londres - Textural Art Gallery
1979 - São Paulo - Museu de Arte de S. Paulo Assis Chateaubriand
1980 - Rio de Janeiro - Individual - AM Niemeyer Artinteriores

Coletivas

1971 - Nova Iorque Iramá Gallery (Karla Sampaio)
1971 - Brasília - Pintores Cearenses (Palácio da Justiça)
1972 - Fortaleza - Ce - Casa Raimundo Cela
1972 - São Paulo - Eucatexpo
1973 - São Paulo Bienal Internacional de São Paulo
1974 - São Paulo - 1ª Amostra de Tapeçaria Brasileira (Fund. A. Penteado)
1978 - São Paulo - Panorama da Arte Cearense - Paço das Artes S. P.
1979 - Fortaleza - Ce - Promoção do Colunista Lúcio Brasileiro
1980 - Fortaleza - Ce - 7º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará - Premiado
1981 - Salvador - Bahia - "Artistas do Ceará" Promoção UFC - UFB
1982 - Fortaleza - Ce - Galeria Inêz Fiuza - "Uma copa com arte"

O artista faleceu em 1990 e suas últimas exposiçoes foram motivadas por uma doação recente efetuada pela própria família do artista.