quarta-feira, 25 de julho de 2012

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Theatro José de Alencar.



O Teatro José de Alencar é um exemplo de construção no estilo Art Nouveau.


Art nouveau ("arte nova") foi um estilo estético essencialmente de design e arquitetura que também influenciou o mundo das artes plásticas. Era relacionado com o movimento arts & crafts e que teve grande destaque durante a Belle époque, nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX. Relaciona-se especialmente com a 2ª Revolução Industrial em curso na Europa com a exploração de novos materiais (como o ferro e o vidro, principais elementos dos edifícios que passaram a ser construídos segundo a nova estética) e os avanços tecnológicos na área gráfica, como a técnica da litografia colorida que teve grande influência nos cartazes. Devido à forte presença do estilo naquele período, este também recebeu o apelido de modern style (do inglês, estilo moderno).



Foi inaugurado oficialmente em 17 de junho de 1910 e apresenta arquitetura eclética, sala de espetáculo em estilo art noveau, auditório de 120 lugares, foyer, espaço cênico a céu aberto e o prédio anexo, com dois mil metros quadrados, que sedia o Centro de Artes Cênicas (CENA); o Teatro Morro do Ouro, com capacidade para 90 pessoas; a praça Mestre Pedro Boca Rica, com palco ao ar livre e capacidade para 600 pessoas; a Biblioteca Carlos Câmara; a Galeria Ramos Cotôco; quatro salas de estudos e ensaios; oficinas de cenotécnica, de figurino e de iluminação; o Colégio de Dança do Ceará e o Colégio de Direção Teatral, do Instituto Dragão do Mar; a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho; e o Curso Princípios Básicos de Teatro. A pedra fundamental do teatro foi lançada em 1896, no centro da praça Marquês do Herval, hoje praça José de Alencar, mas o projeto original não foi concretizado. Em 1904 é que foi oficialmente autorizada a construção do Teatro José de Alencar, através da lei 768, de 20 de agosto. Em 6 de junho de 1908 as obras oficialmente tiveram início, e as peças de ferro fundido que compõem a estrutura do teatro foram importadas de Glasgow, na Escócia. No início do século, ao fazer o projeto arquitetônico do Teatro José de Alencar, o capitão Bernardo José de Mello imaginou um teatro-jardim. Mas, o jardim mesmo, só foi construído anos depois da festa de inauguração, na reforma que durou de 1974 a abril de 1975. O jardim ocupa todo o espaço vizinho ao teatro, pelo lado leste. O novo prédio, conhecido como anexo, foi incorporado ao Teatro José de Alencar na reforma realizada de 1989 a 1990. Fonte: Wikipédia

domingo, 6 de dezembro de 2009

É O FIM?

Bem, como todos sabiam este Blog era a avaliação de fim de semestre da disciplina história da arte do curso de design de interiores, como a nota já foi dada(um 9!!!!!!!!!) resolvi por bem encerrar este Blog neste miserável capítulo que vos falo....

Mas por incentivo da Professora Maria Sanches...resolvi continuar...

Mas não sob pressão, com tema, postagem e etc estipulados...

Vou escrever o que uma design de interiores cearense amante da arte do ano 2009 escreveria...

Aguarde os próximos capítulos....

domingo, 25 de outubro de 2009

CIRCUITO DE DESIGN CEARÁ

O design no Brasil está cada vez mais difundido, e isso é resultado direto dos eventos que ajudam a disseminar a cultura e as práticas do design. No Ceará, uma promissora iniciativa vai ajudar a fomentar no estado esse sentido: o Circuito Ceará Design.
A parceira entre a Associação Ceará Design e o SEBRAE vai reunir workshops, palestras, laboratórios de capacitação, visitas técnicas e consultorias.

O evento é dividido em duas etapas, a primeira itinerante. O circuito vai percorrer a capital e as principais cidades do interior do Estado, em lugares onde o SEBRAE sedia escritórios regionais e podem participar associados, gestores do SEBRAE e profissionais de interesses correlatos.
Para a etapa seguinte, o Laboratório de Aperfeiçoamento em Design Estratégico, estão convidados profissionais das áreas de produto, gráfico, comunicação, interiores e moda, pois o Laboratório têm como principal objetivo multiplicar as possibilidades desses profissionais compreenderem as exigências das empresas, aplicando um novo processo de design que encontre soluções sustentáveis.

Programação:

Palestras Worshop Visitas Técnicas

Juazeiro 23 e 24 de setembro

Sobral 7 e 8 de outubro

Fortaleza 22 de outubro e 5 de novembro

Instrutoras Denise de Castro e Mariana Tamas

Laboratório de Aperfeiçoamento em Design Estratégico

Fortaleza 19 a 30 de outubro e 16 a 27 de novembro

Local FA7

Horário de 18 às 22 horas (40 horas)

Instrutores Allyson Reis e Érico Gondim

Inscrições na Rua Monsenhor Bruno, 1136 sala 23, Aldeota - Fortaleza - CE
Tel: 85 3461.2725

Mais informações com Denise de Castro, Coordenadora de Marketing da Associação Ceará Design, no telefone (85) 3461.2725 ou (85) 9121.5746.

sábado, 17 de outubro de 2009

FORTALEZA KITSCH

Este texto foi retirado do blog PerCursos Urbanos do BNB, o texto está qual igual ao do blog (preservando os direitos autorais) .

OBS: as fotos também são deste blog.

"UMA FORTALEZA KITSH"

A chamada "pós-modernidade" traz à cena do pensamento sociológico e filosófico a experiência do kitsch. A cultura do mau-gosto, do exagero, da imitação barata - em suma, do culto à aparência desprovida de conteúdo, é bastante antigo. O kitsch, dizendo de forma simples, é aquilo que podemos ter daquilo que não podemos ser... No PerCurso deste Sábado, observamos diferentes manifestações do brega-kitsch em nossa arquitetura e espaço urbano. Procuramos compreender o que torna esse fenômeno tão peculiar à nossa cidade que antecipara em muito o que só depois a civilização ocidental viria a conhecer (com a licença do exagero, evidentemente..).

O mediador da vez foi o Gustavo Costa, arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal do Ceará, bacharel em filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e mestrando em filosofia pela Universidade Federal do Ceará.
Uma catedral descontextualizada, desproporcional é no entender de Gustavo Costa um exemplo emblemático do Kitsch na cidade: "Parece - não é - mas tá valendo!". Ao invés de pedras, concreto armado, arcos (quase) ogivais... um estilo do século XIV que se tentou reproduzir - do jeito que deu - em meados do século XX... A Catedral de Forteleza anterior, mais simples porém melhor adaptada ao seu contexto espacial, foi demolida em 1938.

O Castelo do Plácido, do qual só sobraram as "torres" ficava onde hoje está o prédio do Ceart: "o prédio atual dialoga melhor com o clima e as tradições da cidade. Nem tudo tem que ser preservado!", posiciona-se Gustavo.
A excenticidade de um prédio em formato de rádio, construído para abrigar... uma rádio (a Uirapuru). Hoje é a sede do Diretório Central dos Estudantes da UFC. O brega também pode ser simpático...
A Casa do Português (ou Vila Santo Antônio de José Maria Cardoso) na Av. João Pessoa. Poucos adornos, denota um certo modernismo muquirana...Na coqueluche do automóvel dos anos 1940/1950, o estacionamento ficava no alto, superior às habitações dos seus donos
"O problema da arquitetura de Fortaleza é o cliente", disse o mediador numa citação atribuída ao humorista Falcão (que também é arquiteto). O público, contudo, indagou de Gustavo sobre a responsabilidade de seus colegas profissionais nas contruções de gosto duvidoso...

A Igreja de Fátima, chamada (maldosamente?) por alguns de boate de Fátima, por conta do neón extravagante. Por fim, um monumento (ao mau gosto). A estátua estrábica e desproporcional de Nossa Senhora de Fátima, que recebe multidões de fortalezenses nos dias 13 de maio - e chega de kitsch!


BLOG: http://percursosurbanosblog.blogspot.com/2009/05/percurso-uma-fortaleza-kitsch.html

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

DESIGNERS CEARENSES


Alguns destaques designers de interiores da CASA COR 2009

MAGALY JEREISSATE GENTIL
Arquiteta e urbanista, formou-se pela Universidade de Fortaleza em 2004, especializou-se na Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro em 2007. No mercado há 6 anos, seu primeiro convite para Casa Cor foi em 2006, participando também, nos anos seguinte 2007 e 2008. Atuante nas áreas de arquitetura e arquitetura de interiores de residências e espaços comerciais, seus projetos têm como características a busca da integração da elegância com o conforto e funcionalidade dos espaços. Todo esse trabalho de pesquisa de materiais e criação caminham em parceria com os clientes, observando e respeitando as suas necessidades e desejos.

MAX FROTA E ITATIENE GARCIA
Max Frota é arquiteto formado pela Universidade Federal do Ceará em 1994. Durante seu período acadêmico, participou ativamente das discussões sobre a realidade da formação em arquitetura no Brasil e na América Latina, atuando como diretor da Fenea, Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura.
No início da carreira morou em Sobral, onde trabalhou com os arquitetos Edilson Aragão e Herbert Rocha, com quem mantém parceria profissional até hoje.
Entre 1995 e 1996 estagiou no escritório de arquitetura SVP de Amersfoort, Holanda e estudou em Florença, Itália.
De volta a Fortaleza, trabalhou como secretário executivo do IAB-CE.
Em 1999, Max e Itatiene, criam em Fortaleza, o escritório Projeto Brasil Arquitetura, onde desenvolvem projetos de arquitetura e interiores de escalas e temas variados nas áreas residencial, comercial, industrial e institucional.
Itatiene Garcia é arquiteta formada pela Universidade Federal da Bahia em 1995. Durante a época de faculdade estagiou no restauro do Mosteiro de São Bento, em Salvador e no levantamento cadastral de Sobral para fins de tombamento.
Logo após a formatura, segue também para estudos em Florença, Itália.
De volta ao Brasil, trabalha por três anos no escritório da arquiteta Denise Pontes, em Fortaleza, gerenciando e desenvolvendo trabalhos de arquitetura e interiores.

CELENE GURGEL
Munida de técnica, conhecimento e uma valorizada intuição, a profissional encarou um grande desafio com o primeiro ano da Casa Cor Ceará em 1999. Na prateleira onde ostenta 11 prêmios recebidos ao longo da carreira, a designer destaca o troféu de participação da primeira exposição de decoração, arquitetura e ambientação do Ceará. “Para mim, a Casa Cor foi um divisor de águas para o mercado, pois após a primeira edição muitos profissionais ganharam muitos trabalhos. O mercado caminhava na horizontal e após a Casa o quadro mudou para melhor. As pessoas passaram a conhecer o trabalho de interiores”, recordou.
Para Celene, os frutos da Casa Cor não foram apenas trabalhos, mas, principalmente, amizades. A designer não disfarça a empolgação quando fala da rede de relacionamentos que construiu durante anos e confessa que a empatia das pessoas é a principal responsável pela conexão com novos amigos. Mesmo rodeada de amigos, a profissional destaca três pessoas fundamentais na sua vida. “Na primeira Casa Cor, três anjos se aproximaram de mim e me deram uma força que nunca vou esquecer. Os arquitetos Marcos Novaes, Dudu Vidal e Cecília Nóbrega são essenciais para mim. Trago os três no meu coração”, declarou Celene

sábado, 10 de outubro de 2009

SEU LUNGA

A HISTÓRIA DO SEU LUNGA

A fantástica construção do nordestino Seu Lunga
(Ester de Carvalho Lindoso)

Joaquim dos Santos Rodrigues: o homem seu Lunga
Seu Lunga é apenas o apelido de Joaquim dos Santos Rodrigues. As piadas sobre ele escondem atrás da personagem o homem real, nascido em Caririaçu, fronteira Norte de Juazeiro, em 18 de Agosto de 1928. Viveu a infância com os pais e mais sete irmãos, "no meio dos matos,"afastado da cidade. O apelido lhe acompanha desde esta época, quando uma vizinha de sua família, que ele só identifica como preta velha, começou a lhe chamar de Calunga, que virou Lunga e pegou.

Começou a trabalhar na roça aos oito anos de idade, e admira a criação rígida que teve de seu pai, o que marca um aspecto psicossocial do homem Lunga. Sobre a educação recebida, Lunga responde: "Uma educação desses pais de família sérios, homem de responsabilidade, homem de caráter, homem de palavra, homem de respeito." Lunga deixa sua postura um tanto desinteressada da conversa, para deixar transparecer sua admiração pelo pai.

Da infância traz poucas lembranças, como as brincadeiras com os colegas, que eram seus próprios irmãos. Entre os irmãos dominava a determinação do pai de que os mais novos deveriam obedecer aos mais velhos. Há também as lembranças das poucas idas à cidade, acompanhando o pai que ia vender ou comprar algo. Foi assim até aos 16 anos, quando se mudou para o Juazeiro.

A mudança para o Juazeiro se deu depois que Lunga caiu em uma cacimba e adoeceu, impedindo-o de trabalhar na roça com o pai. Lá ele aprendeu a arte de ourives, e viveu disso por dois anos. Foi nesse período que seu Lunga aprendeu a negociar no Mercado Público da cidade, passando depois a trabalhar no comércio com sua loja de sucata.
A determinação de seu Lunga que o fez ir para a cidade morar longe da família e conseguir sobreviver fazendo o que nunca tinha feito antes também se mostrou quando pediu a prima em casamento.

Sem nunca terem namorado, Lunga deu a ela três dias para pensar se queria ou não casar-se com ele. Terminado o prazo, ela aceitou o pedido, e só não se casaram no dia seguinte, porque o pai da moça não deixou. O namoro então durou uns dois ou três meses.

Casado desde 1951, hoje Lunga é pai de treze filhos, mas se ressente de não ter podido lhes dar uma educação mais rígida, pois sua esposa "é contra se castigar um filho." Apesar disso, ele se orgulha de todos eles, com exceção de um, terem estudado e se formado em alguma profissão (nenhum com nível superior, entretanto), ao contrário dele mesmo, que foi às aulas por apenas dois meses.

O pai Lunga reflete a rigidez do homem que deu origem a toda a construção da personagem pouco flexível, mas ao mesmo tempo deixa transparecer o orgulho comum a todos os pais: oferecer boa educação aos filhos. É interessante também notar como a realidade interiorana de Lunga influencia em sua avaliação da educação de seus filhos. Ao dizer que quase todos os filhos eram formados, ele disse que nenhum, entretanto, tinha "formatura alta," referindo-se à formação de nível superior.

Ora, em sua vivência, a formação acadêmica é um contexto distante, dispensável para seu estilo de vida. A pouca instrução de Lunga, por outro lado, não o impede de discorrer sobre assuntos como política, cultura, religião, nem o impediu também de candidatar-se a vereador da cidade de Juazeiro em 1988, eleição que não ganhou porque, segundo ele, teve seus votos roubados.

Além do comércio, seu Lunga é dono de um sítio onde cria gados e planta frutas que leva para sua loja para vender. Homem sem grandes paixões, ele se considera "temperado." Religioso, ele se declara devoto do padre Cícero, o que é uma marca também da cearensidade de seu Lunga. Apesar disso, ele não é freqüentador assíduo das missas, pois pensa que religião não é ir a uma igreja ou participar de romaria, mas ajudar àquele "que bate na porta." Em tudo isso seu Lunga se acha feliz.

A rigidez de seu Lunga o faz repudiar a construção de sua personagem, pois o homem se sente tremendamente injustiçado com as estórias que ele diz serem inventadas. E se tem um tema que seu Lunga sempre traz à tona em seu discurso, é a justiça. Lunga não pode perceber aqui a separação entre a construção cultural, o objeto imaginado e abstraído da realidade e a realidade em si. O homem toma a personagem como ofensa pessoal, e isso também fala de sua formação cultural e de seu caráter.

O homem mais zangado do mundo: personagem seu Lunga
A fama da rudeza do seu Lunga, "o homem mais zangado do mundo," corre o Ceará de norte a sul, nas historietas engraçadas contadas nas mesas de bar, nas rodas de amigos, nos ônibus, nos versos do cordelista.

O único que não ri dessas piadas é seu Lunga. Para ele, o que andam contando a seu respeito é invencionice. Mas ao mesmo tempo que ele nega a veracidade das histórias, seu Lunga reconhece uma origem para elas. É que ele "não faz por menos," isto é, se perguntou errado, tem a resposta que merece. Essa é sua grande queixa com relação aos brasileiros e seu principal discurso regular, isto é, aqui e ali ele retorna a essa argumentação. É como se ele quisesse se justificar de sua grosseria.

Ele cita vários exemplos de como isso acontece. Um cliente entra na loja e pergunta sobre um ventilador desligado: "Está funcionando?" Indignado seu Lunga devolve: "Como é que ele pode estar funcionando se não está ligado?" Segundo ele, essas e outras respostas a colocações mal feitas é que lhe deram a fama de ignorante.
Há, contudo na fala de seu Lunga uma contradição nítida.

Em alguns pontos ele reconhece um fundo de verdade nos comentários sobre ele; em outros, ele acha inadmissível o fato de alguém ter escrito o que ele considera inverdades a seu respeito. Seu desgosto com os cordéis e as piadas talvez fosse esperado, mas é que sua defesa é tão acirrada, que às vezes faz pensar que o cordelista fala dele algo que ele absolutamente não é.

Esse é um mote para uma discussão interessante: Abraão Batista (o cordelista) pode receber todas as acusações feitas da parte de seu Lunga, pois na verdade ele conta estórias de que ouviu falar, mas que não tem nenhuma confirmação já que ele nem sequer conhece seu Lunga. Por outro lado, ele se junta ao grupo dos que constróem a personagem seu Lunga cada vez que uma história sobre ele é recontada, aumentada, ou até mesmo inventada.

A questão principal aqui é observar como uma identidade pode ser construída a partir de invenções, de criações em torno de um tema central, e como essa construção permite que se vá além da realidade, que dela se exceda, se extraia os componentes nela verificados, e que se simplifique, se estereotipize, se caricaturize e faça dela desgraça, argumento, elemento legitimador, humor etc.

Esse é o mesmo processo discutido no capítulo 1, pelo qual passou e ainda passa a região Nordeste, quando da construção de sua dizibilidade e visibilidade. Os elementos utilizados não precisam necessariamente observar-se na realidade da maneira como é dito, i.e., a dizibilidade muitas vezes não se confirma na realidade, mas ainda assim essa construção é legítima (ou melhor, foi legitimada) porque tem um propósito final (o Nordeste já aprovou até lei com sua dizibilidade).

Abraão Batista reconhece que o personagem de seus cordéis é uma construção sua, ao afirmar que se Lunga hoje é um atrativo turístico de Juazeiro do Norte, isso é devido ao cordel. É claro que a fama de seu Lunga não é resultado da composição dos cordéis, antes, os cordéis é que são resultado dessa fama, mas é importante notar que o processo de construção "inventada" realmente existe, isto é, o comerciante seu Lunga virou o atrativo turístico seu Lunga. Ele não nasceu o seu Lunga que conhecemos hoje, ele é uma construção cultural.

O Nordestino Seu Lunga
Quem é o nordestino seu Lunga? Como ele se comporta como nordestino? Como o fato de ele ser nordestino influencia em suas interpretações da realidade? Em primeiro lugar, é importante retomar as condições para se ter uma identidade nordestina enumeradas por Maura Penna (1992), para à luz delas verificarmos a "autenticidade" da nordestinidade de seu Lunga. A primeira condição é a naturalidade, que diz respeito ao local de nascimento, se este faz parte da região geográfica Nordeste. Nascido no estado do Ceará, seu Lunga se encaixa, portanto, na primeira condição.

A segunda é a vivência, e toda a história de seu Lunga se passa na região Nordeste, a maior parte dela na cidade do Juazeiro do Norte, Ceará; a terceira condição é a cultura e é inegável o envolvimento de seu Lunga na cultura nordestina, mais especificamente na cultura de sua cidade, com suas crenças religiosas, vida política, prática comercial etc. Por último, há a auto-atribuição que é o único elemento não-empírico dessa lista. Não-empírico por não poder ser inferido pela observação. Por não poder inferir essa última condição, é que passarei à análise de seu discurso, para ver de que forma seu Lunga tem assimilado o " texto Nordeste."

Em entrevista com seu Lunga, perguntei qual era o maior problema do Nordeste. Ele me respondeu que era a seca, mas logo seu discurso mudou, e da calamidade natural, ele desviou o foco para a "injustiça que opera no Nordeste," referindo-se à falta de ação política, e ao desinteresse mesmo da classe política em agir. Ora, mais uma vez seu Lunga expressa um discurso contraditório, pois inicialmente ele culpa a falta de chuva na terra de ser a causa do maior problema da região, mas logo em seguida retoma o discurso que ele utiliza desde a primeira pergunta da entrevista: a injustiça que faz com que a construção da casa Nordeste não tenha "base," "alicerce." Lunga ao invés de enumerar os dois fatores, sobrepõem um ao outro, tornando seu discurso contraditório.

Mas o fato que interessa reconhecer nesse discurso é o agenciamento de uma imagem construída sobre o Nordeste: a seca. E essa não é a única. Quando perguntei a ele o que ele pensava que era a imagem que paulistas e cariocas têm do Nordeste, ele disse que eles pensam que "aqui era o povo tudo morrendo de fome." Ao dizer isso seu Lunga queria contestar essa visibilidade, mas ao mesmo tempo, seu discurso assumia essa imagem como verdadeira. Ele falou então que se observássemos uma empresa em São Paulo, encontraríamos "1000 funcionários paulistas e 5000 nordestinos."
A nordestinidade de seu Lunga também se observa em outros momentos.

Ao falar do homem seu Lunga, fiz referência a um forte elemento ligado à dizibilidade do nordestino, que é a religiosidade. Seu Lunga é devoto de padre Cícero, e quando se fala de Juazeiro, Cícero é a marca identitária que primeiro vem à mente de qualquer pessoa. Seu Lunga então, tem um perfil, que, em mais um aspecto confirma não só sua nordestinidade, mas também sua cearensidade.

É possível notar também marcas da regionalidade em seu Lunga em expressões que ele usa como "comer uma saca de sal junto" para poder conhecer quem realmente é uma pessoa ou "a casa caiu 'por riba' do povo tudinho," falas tipicamente associadas ao nordestino.

Monografia apresentada ao Departamento de Comunicação Social e Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará